Curitiba, 10 de outubro de 2017, escrito por Gilson Rodrigues. Embora a tatuagem seja hoje considerada uma forma de expressão e de arte, a tattoo oriental remonta aos tempos dos samurais. No Japão, a prática de tatuagem é conhecida como Irezumi ou Horimono e sua origem remonta ao ano de 10.000 aC., quando se começou a aplicar a técnica de tebori, ou seja, entalhado ou esculpido à mão.
A tattoo oriental possui uma história marcada por diversas contradições, tendo sido utilizada com finalidades espirituais e decorativas, como símbolo de coragem e proteção ou mesmo para marcar os criminosos.
A conotação negativa para a tattoo oriental começou no período Kofun, por volta de 300 a.C., quando as tatuagens foram utilizadas para marcar os criminosos, possibilitando que eles fossem identificados mais facilmente, o que fazia com que se distanciassem da sociedade. Essa prática somente foi abolida no ano de 1870.
No período Edo, a tattoo oriental começou a ser representada na literatura, através de xilogravuras de homens com o corpo todo tatuado, contribuindo para sua divulgação e apreciação.
Um dos pintores mais conhecidos de xilogravuras com tattoo oriental foi Itagawa Kuniyoshi, no século XIX. Suas gravuras eram tão populares que os tatuadores passaram a aplicar o mesmo estilo. Com o tempo, a tatuagem se tornou um dos principais identificadores dos integrantes da máfia japonesa, a Yakuza.
Em razão disso e da tattoo oriental como marca dos criminosos, o Japão ainda apresenta preconceito com relação às tatuagens. Ainda hoje, locais como piscinas públicas não permitem que pessoas tatuadas possam nadar. Algumas empresas até agora não aceitam contratar pessoas com tatuagens.
No período Meiji da história do Japão, a tattoo oriental foi proibida pelo imperador. Quem tivesse tatuagem, passava por uma rigorosa punição. Porém, as pessoas que apreciavam tatuagens continuavam fazendo as suas. Elas contavam com tatuadores clandestinos, fazendo tatuagens em locais do corpo que não podiam ser vistos.
A tattoo oriental voltou a ser legalizada após a Segunda Guerra Mundial, em 1948. A partir daí o método japonês tradicional passou a ser conhecido no mundo todo, tornando o Tebori uma arte reconhecida internacionalmente.
Na tattoo oriental, tebori é uma técnica aplicada com uma haste de bambu ou marfim com agulhas dispostas em fileiras. As agulhas, amontoadas ou isoladas, devem ser pressionadas contra a pele. A tinta utilizada na tattoo oriental é feita de forma artesanal, extraída de algumas plantas e de pedras moídas, sendo misturadas com água.
Com essa técnica, a tattoo oriental apresentava cores e efeitos mais contrastantes, que não eram conseguidos pelas técnicas do Ocidente. O aprendizado do tebori exigia muito treinamento, levando os profissionais a se tatuarem no corpo todo até atingir a perfeição.
O aprendizado do tebori para fazer tattoo oriental começava com o aprendiz passando 5 anos observado o seu mestre, Horimyo. Quando começava a fazer sua própria arte, o aprendiz passava um ano pagando seu mestre com todos os seus rendimentos. Isso era considerado um gesto de respeito e gratidão como retribuição pelo ensino.
Os desenhos utilizados na tattoo oriental dentro da técnica tebori são desenhos grandes, sem muitos detalhes, quando vistos à distância. Esses desenhos representam dragões, carpas e samurais e, dependendo do tamanho, cada tatuagem pode levar meses para ser concluída. O resultado final é reconhecido como verdadeira obra de arte.
No Japão, os tatuadores de tattoo oriental são conhecidos como horishi, embora os especialistas em tebori sejam chamados de horimyo. Atualmente, existem profissionais que dominam tanto a técnica tebori quando a ocidental, trabalhando com máquina de tatuar.
Entre nós, no Brasil, existem tatuadores de tattoo oriental que conhecem a técnica tebori, mesmo sendo muito poucos.
Em 1827 foi publicado o livro “108 Heróis de Suikoden”, contando as sagas dos bandidos honrados. O livro, baseado no romance chinês Shui-Hi-Chan, foi traduzido para o japonês e se tornou bastante popular. Ele deu origem à moda Suidoken entre os samurais que viviam na época.
A tattoo oriental teve bastante divulgação através do romance. Principalmente pelas figuras de homens tatuados no corpo inteiro, vivendo sagas épicas que fizeram com que o fato de ter o corpo todo tatuado se tornasse uma regra para os homens mais nobres.
A riqueza das pinturas dos heróis mostradas no livro ainda é usada pela maior parte dos tatuadores japoneses.
Depois do período Edo, quando a tattoo oriental foi marginalizada, os japoneses não desistiram de ter seus corpos tatuados. A era seguinte, Tokugawa, passou a ter nas tatuagens um símbolo de resistência. Isto porque foi nessa época que a Yakuza se desenvolveu.
Os desenhos dos integrantes da Yakuza simbolizam uma oposição ao regime monárquico, embora também representem a lealdade dos membros e seus sacrifícios pela organização.
Dos grupos também faziam parte dos bandidos rounin, que eram guerreiros samurais que não tinham um mestre que, por isso, andavam pelo Japão cometendo crimes. Essa é uma das principais razões porque a tattoo oriental ainda é discriminada.
Hoje, para quem tem o corpo cheio de tatuagens, não é uma boa ideia viajar para o Japão. Os homens com corpos repletos de tatuagens sempre são suspeitos de pertencer a uma organização criminosa, como a Yakuza.
A nova geração continua um tanto arredia à tattoo oriental, embora a técnica tebori seja apreciada em diversas partes do mundo, principalmente pelos detalhes oferecidos nos desenhos.
Os desenhos de tatuagens são bastante elaborados, sendo aplicados com muita paciência pelos tatuadores. Tatoo oriental ainda carrega o claro significado de sacrifício e de oposição. O sacrífico é feito pelo tatuado, que deve suportar longas sessões com a técnica tebori. Esse método é bastante dolorido, mas apresenta excelentes resultados no final.
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